segunda-feira, 6 de maio de 2013

MÉTODO DE REPERTORIZAÇÃO - ANEXO


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ANEXO I AO CURSO DE HOMEOPATIA


MÉTODO DE REPERTORIZAÇÃO            


A repertorização é o procedimento que mais inibe e desmotiva o estudante de homeopatia, levando-o múltiplas vezes ao seu abandono e instigando-o por inércia e desencorajamento à consulta de “repertórios”, que mais não são do que guias expeditos de prescrição sem qualquer correspondência com a doutrina hahnemaniana, constituindo-se antes como receitas de urgência à imagem e semelhança da medicina alopática e com resultados duvidosos e altamente falíveis.
Nesta perspectiva, damos a seguir um procedimento repertorial, que se pretende simples e eficaz e que tem produzido frutos na nossa actividade prática, sem que olvidemos ainda que sinteticamente os passos necessários à sua execução – constatará a repetição de conceitos já explanados na primeira parte deste livro, repetição essa, que não pecará por excesso, atenta a importância dos mesmos.

Como já se disse, os sintomas característicos do paciente são muito mais importantes do que os sintomas e sinais da doença.
Conforme ensinou Kent, temos de considerar em primeiro lugar o homem no seu centro, nas suas funcionalidades intelectuais, afeições, sintomas físicos gerais, para só depois deslocarmos a nossa atenção para a periferia, nos sintomas locais ou particulares. Iniciando a investigação do Homem em si mesmo, pode ocorrer que os sintomas locais não estejam descritos na patogenesia do medicamento apurado, mas o remédio cura o enfermo – em homeopatia não há doenças, mas doentes – e estes desaparecem.

Os sintomas comuns, que surgem em múltiplos experimentadores de uma dada substância e caracterizam uma patologia sem que estejam modalizados, têm reduzido valor na repertorização, bem como na pesquisa ulterior do simillimum, ao contrário dos incomuns, que são peculiares, raros e estranhos.
Os sintomas característicos, individualizam ou caracterizam o paciente no âmbito da totalidade sintomática, estando geralmente associados a modalidades de melhoria e agravamento.
Os peculiares são antes do mais, sintomas característicos, específicos de alguns medicamentos ou do próprio paciente.
Os raros, só muito raramente se verificam no repertório e são constituídos por rubricas com um número igual ou inferior a três medicamentos.
Os raríssimos ou Key notes, encontram-se em rubricas com apenas um medicamento.

Os sintomas biopatográficostranstornos por... – têm grande importância, porquanto explicam na sua essência mais profunda a origem da patologia que nos propomos curar.
Os mentais, caracterizam no essencial um indivíduo e são auxiliados nesta tarefa pelas suas aversões e desejos, bem como pelo seu comportamento e reacção aos elementos naturais. Estes, devem ser sempre utilizados para a selecção final do medicamento.
Os sintomas gerais representam o homem como um todo, na sua globalidade de entidade viva. Quando o paciente se exprime na primeira pessoa do singular, podemos estar quase certos que se refere a um sintoma geral: “Eu” tenho frio; “Eu” tenho sede. Segundo Kent, estes sintomas quando modalizados, são os que melhor se adequam à repertorização fundamentada no método de eliminação ou cancelamento. Também Hahnemann havia ressaltado a sua importância.
Os locais ou particulares têm uma localização específica, pertencendo em regra a um determinado órgão ou parte do organismo. Quando examinamos a parte, examinamos o particular. Se o paciente usa o pronome “Meu”, está quase sem excepções a referir-se a um sintoma local: O “meu” estômago arde, o “meu” intestino não funciona, tenho dores insuportáveis na “minha perna” quando me levanto.


Depois do enfermo ter fornecido a história detalhada dos seus padecimentos, do prático ter obtido todas as informações necessárias ao procedimento sobre os mesmos, interrogando-o acerca dos sintomas etiológicos, mentais, gerais e sobre os diferentes aparelhos, bem como das respectivas modalizações, para além de ter determinado o histórico da doença e os antecedentes pessoais e familiares, haverá que transformar a linguagem daquele em linguagem repertorial, destrinçando os eventuais sentidos de rubricas similares, hierarquizando os sintomas que são caracterizadores da sua individualidade – sintomas incomuns, característicos, raros, estranhos ou inexplicáveis, peculiares e repetitivos.
Contrariamente ao paciente que apresenta sintomas bem chamativos e modalizados da esfera mental ou gerais, surgem-nos alguns com uma imensidão de queixas, a maior parte das quais sem qualquer importância repertorial – devendo neste caso o homeopata seleccionar os mais antigos e repetitivos – e outros com um número bastante elevado de sintomas que respeitam apenas a uma das categorias – valerá aqui, o mais antigo e convenientemente modalizado.



No nosso método de repertorização, procurámos isolar os sintomas relevantes em dois grupos, exigindo-se um mínimo de dois por grupo, que devem ser previamente hierarquizados segundo o esquema infra – o ideal são três para cada um: O primeiro, engloba a biopatografia, os mentais e os gerais modalizados, enquanto que o segundo se limita aos sintomas particulares ou locais.
Podem ser repertorizados no primeiro grupo, verbi gratia, três sintomas mentais, desde que chamativos do caso, um biopatográfico, um geral e um mental, dois gerais e um mental e assim sucessivamente em conformidade com os dados obtidos no interrogatório e exame do paciente.
No segundo, escolheremos três sintomas, mas sempre dando preferência à hierarquização apontada.
Deveremos sempre tomar em linha de consideração que as rubricas não devem possuir um pequeno ou elevado número de medicamentos, dando-se em regra preferência aos de maior pontuação – Grau I e II. As rubricas com um pequeno número de medicamentos – sintomas raros e raríssimos – serão utilizados complementarmente no final da repertorização, para verificação de correspondências medicamentosas.

No domínio do agudo, quando são narrados sintomas que se prendem única e exclusivamente com a enfermidade que urge debelar com rapidez, o homeopata seleccionará um mínimo de três sintomas, procurando sempre valorizar os incomuns e os modalizados, mas não, sem que antes se esforce por encontrar pelo menos um sintoma característico do primeiro grupo. Não deixará também aqui de atender à pontuação dos medicamentos, fazendo aproximar este método do de Hering – regra do tripé.



I - PRIMEIRO GRUPO



SINTOMAS ETIOLÓGICOS (Transtornos por...):
Alcoolismo (dipsomania), decepção de amor, ansiedade por antecipação, choque mental, ciúme, cólera, contradição, humilhação, mortificação, más notícias, saudade, remorso, susto, luto, traumatismos (ferimentos, acidentes), etc.

SINTOMAS MENTAIS MODALIZADOS

SINTOMAS DA IMAGINAÇÃO – Delírios, ilusões, sensações, sonhos, etc.
SINTOMAS EMOCIONAIS – Angústia, ansiedade, avareza, choro, ciúme, cólera, humor, medo, tristeza, etc.
SINTOMAS VOLITIVOS – Desejos e aversões, indolência, trabalho, vontade, etc.
SINTOMAS INTELECTIVOS – Compreensão, concentração, erros quando escreve, lê ou fala, esquecimento, memória, valorações e juízos, etc. 


SINTOMAS GERAIS MODALIZADOS (SEGUNDO KENT)

MEIO AMBIENTE – Aqui anota-se a forma como o paciente reage de modo global ao meio natural envolvente: mudanças de tempo, temperatura, calor , frio, humidade, correntes de ar, etc.
DESEJOS E AVERSÕES ALIMENTARES – Nesta rubrica, não podemos valorizar uma mera apetência ou desagrado, mas antes, a necessidade premente ou a repugnância de determinados géneros alimentícios.
FUNÇÕES FISIOLÓGICAS – Apetite, evacuações, menstruação, micção, sede, sexualidade, sono, transpiração, etc.
LATERALIDADE – Direita ou esquerda.
SENTIDOS – Alterações da audição, olfacto, paladar, tacto e da visão.
POSIÇÃO – Anotam-se neste item a influência das posições no estado geral do enfermo: deitado, em pé, sentado, no sono, etc.
MELHORIAS E AGRAVAÇÕES ALIMENTARES – Não se trata aqui de aversões ou desejos, mas dos alimentos que agravam ou melhoram o paciente.



II – SEGUNDO GRUPO


SINTOMAS PARTICULARES

      
SINTOMAS INCOMUNS – Estes são os raros, estranhos e peculiares. Por exemplo, podemos tomar o caso de um paciente que tem uma dor de cabeça que alivia quando a aperta fortemente com as mãos ou com um pano.
SINTOMAS MODALIZADOS – Exemplo: náuseas quando viaja de barco.
SINTOMAS NÃO MODALIZADOS - Dor de cabeça, náuseas.
PATOGNOMÓNICOS – São os que respeitam à doença e que como tal possuem muito pouco valor, como já ficou explanado, tais como febre alta numa gripe ou secrecção nasal durante rinite.


É a modalização, determinando em que circunstâncias melhora ou agrava o sintoma ou a totalidade sintomática do paciente, que torna o sintoma característico e que o valoriza na escala hierárquica (ver nota 85 em sede de Doutrina Homeopática).


Determinados os medicamentos que cobrem na totalidade – ou quase na totalidade – os sintomas do caso clínico, haverá que proceder ao seu estudo nas matérias médicas, de forma a encontrar a correspondência que conduzirá o enfermo à cura.



José Maria Alves 


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